Curso de Jornalismo X Fim da obrigatoriedade do diploma

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Professores do IACS opinam sobre decisão do Supremo Tribunal Federal

Por Iane Filgueiras


“Nada muda nada. Os jornais vão continuar precisando de formados”. Para o professor Alceste Pinheiro, o fim da obrigatoriedade do diploma não quer dizer que os jornais passarão a contratar pretensos jornalistas que não têm nenhuma formação. Para o professor, as pessoas não nascem prontas e, portanto, precisam aprender o que exige determinada função para poder exercê-la, seja em qualquer esfera.

“Nenhum jornal é maluco de sair contratando médico, engenheiro, ou qualquer outro profissional desse tipo para ser jornalista“. Explica que, antes os jornais já contratavam pessoas que não eram graduadas no curso e que, por isso, o quadro continuará praticamente o mesmo. Para o professor, as áreas que talvez enfrentem alguns problemas são as que necessitam de uma habilidade específica, como planejamento gráfico, rádio ou fotografia, que já eram áreas visadas por profissionais “de fora” do jornalismo.

Alceste alerta que o cuidado que se deverá ter é com o próprio curso. Para o professor, corre-se o risco de outros cursos - principalmente da área de Humanas - avançarem sobre as disciplinas eletivas oferecidas. Isso poderá ocorrer seja por um desajuste natural com o próprio curso e uma consequente busca por outras possibilidades, como até por má fé (entrar para um curso com uma relação candidato/vaga menor, já na intenção de fazer disciplinas de Jornalismo).

Com sinceridade, Alceste diz que nem sabe dizer se é a favor ou contra a decisão. Explica que se, por um lado, nada muda muito, por outro, a coisa não é tão simples assim. Mas deixa claro que é contra a forma como as coisas foram feitas. “Os argumentos para a decisão foram muito frágeis”.

Decisão equivocada

Para a professora Sylvia Moretzshon, que é estritamente a favor da obrigatoriedade do diploma, a decisão do Supremo Tribunal Federal foi equivocada e mal embasada.
“O canudo é como um símbolo da sua trajetória universitária”.

Para Sylvia, para que alguém se torne repórter, precisa necessariamente ser formado para exercer esta profissão. Critica que “para este tipo de jornalismo que andamos vendo por aí, é claro que não precisamos de diploma”. Mas que, para se fazer um jornalismo sério e comprometido com o que essencialmente diz respeito à profissão, o curso é estritamente necessário.

Nele são ensinados não só técnicas de redação, apuração, etc, mas também é instigado o senso crítico, é desenvolvido o olhar diferenciado, é aguçada a percepção. Sylvia explica que o futuro profissional de Jornalismo precisa ser preparado para lidar com o mundo que o aguarda, com determinadas situações, com a esfera no qual será inserido. Diz que é claro que a prática também ensinará muito, mas, inegavelmente, não se pode dizer que se nasce sabendo a mesma coisa que se sabe ao sair da faculdade.

Sem grandes mudanças

Assim como Alceste Pinheiro, Alexandre Farbiarz pensa que não haverá grandes mudanças no mercado de trabalho com o fim da obrigatoriedade do diploma de jornalismo. “Não acho que vá mudar muita coisa realmente com a decisão. O extrato principal, tanto no meio acadêmico quanto no profissional, tem características muito bem definidas, e não se pauta pela questão do ´diploma´”.

Para ele, como os jornais precisam de uma versatilidade de profissionais em suas redações, continuarão, assim como já faziam antes, a contratar pessoas que não são formadas em Jornalismo. Porém, uma grande parte dos funcionários continuará sendo de formados, “não pelo diploma - e pelo sentido cartorial que a ele se tenta impingir - mas pela formação acadêmica que a universidade realiza e que é, sim, reconhecida pela grande mídia”, declara o professor. Ele diz que o que pode acontecer é das pequenas empresas ou, destaca ele, “as não tão sérias” terem o espaço que sempre quiseram para contratar conhecidos ou pagar um salário muito baixo aos seus “colaboradores”.

Farbiarz especula que talvez possamos presenciar, com esta decisão, uma espécie de “limpeza” nos cursos de Jornalismo. As pessoas que têm somente o diploma como objetivo podem vir a desistir do curso. Com isso, enxergando que é a formação, e não o diploma, que faz a diferença, haveria uma procura maior (e não menor, como muitos prevêem) pelas vagas nas universidades públicas. O professor deixa claro, porém, que isto é só uma especulação. “É possível, mas não certo”.

Esclarece, também, que do seu ponto de vista não vai mudar praticamente nada no curso. “Sempre tivemos como enfoque a formação e a visão crítica”, ressalta. Para Farbiarz, que não é a favor da decisão da não obrigatoriedade do diploma, no fim das contas, o que já está consolidado não será prejudicado. O professor comenta que talvez até pudesse ser a favor da decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal, se o esquema tivesse sido feito de outra forma, em outras circunstâncias, e com outras intenções. “Sou contra a forma como foi realizada, encaminhada e concluída, com total desrespeito à classe e aos cursos. Houve muitos equívocos nas declarações do STF e até, pode-se pensar, um pouco de má fé”.

João Batista, assim como Alceste e Farbiarz, não acha que muita coisa vá mudar no mercado profissional do Jornalismo. Para ele, as redações, o hard news, continuarão sendo compostas de jornalistas, pois só eles é que estão preparados para este ambiente.

Para o professor, o que pode vir a mudar é o que chama de “perfumaria”, os “periféricos”, aqueles que “ilustram” as situações. São eles os comentaristas, colunistas, e outros cuja obrigação não é diretamente ligada com a apuração, apenas consiste em estar por dentro do que é notícia.

Ele alerta, ainda, que o que pode mudar são as assessorias de imprensa e também os concursos públicos. As assessorias, que já não eram exclusividade dos formados em Jornalismo, poderão ser abertas cada vez mais a formados em outros cursos. E já os concursos, com o fim da obrigatoriedade do diploma, poderão passar a destinar as vagas que antes eram só para formados em Jornalismo, também para outros cursos, já que a partir de agora, como se tem dito, qualquer um pode ser jornalista.

Assista ao depoimento dos professores citados e também de alunos no bem-humorado vídeo
Diploma de Jornalismo: "Você não vale nada, mas eu gosto de você", feito pela aluna de Jornalismo Natalia Weber para o site Enfoque UFF:



Breves perfis

Alceste Pinheiro foi aluno de Comunicação Social - Jornalismo da UFF - nos primeiros anos do curso, e recebeu seu diploma em 1979. Ele é, ainda, doutor em História Social. Atualmente ministra no IACS disciplinas como “Linguagem jornalística”, “Teorias e Técnicas de Reportagem” e “História da Imprensa”.

Alexandre Farbiarz é formado em Comunicação Social - Jornalismo pela Universidade Cidade, e recebeu seu diploma em 1988. É mestre e doutor em Design e Mestre em Educação. Atualmente é o chefe do departamento de Comunicação Social da UFF e ministra no IACS a disciplina “Planejamento Visual Gráfico”.

João Batista é formado em Comunicação Social – Jornalismo, pela UFF, e recebeu seu diploma em 1975. É mestre e doutor em Comunicação, e também graduado em ciências sociais. É professor do IACS há mais de 25 anos e atualmente é vice-diretor do Instituto. Ministra disciplinas como “História do Rádio e da TV” e “Jornalismo Econômico”.

Sylvia Moretzshon é formada em Comunicação Social - Jornalismo UFRJ, e recebeu seu diploma em 1981. É mestre em Comunicação e doutora em Serviço Social. Atualmente ministra disciplinas no IACS como “Introdução ao Jornalismo” e “Ética Jornalística”.

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